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Rua 15, Beija Flor 2 WhatsApp 7

Memórias de Infância. Crônicas da Rua 15, do Conjunto Beija Flor 2, Manaus-AM. De 1990 a 1998. Por Hélio Góes. "Góes é meu pai. Meu nome é Hélio, mas pode me chamar de Sol."

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Sumário

01 – O convite da “adulta” Andreza

02 – Uma volta pela rua 15

03 – A janela “Maicon”

04 – Estudos pré-Renato

05 – Um banco que hoje sabe falar

06 – Parabéns, Marlyo

07 – Bicicletas

08 – Velas, fogueiras e catolés

09 – Renato

10 – Do dia que me atropelaram

11 – “Achiiide”

12 – Neto da avó

13 – Inédito: Neto, o Enedito

14 – Parabéns, irmão!

Autor: Hélio Vasconcelos França Góes

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01

O convite da "adulta" Andreza

     Entre 1995 e 1997, a rua 15 do conjunto Beija Flor II era meu universo. Das brincadeiras de Manja se Esconde, Garrafão e Cobra ou Passarinho quando faltava luz a noite na rua, após as muitas sobrecargas do transformador da esquina, aos jogos de Super Nintendo em um quartinho da casa da vizinha Joana. Tinha 10, 12 anos de pura falta de tato social, de modo que sempre foi, para mim, muito educativo ouvir o que Andreza Cavalcante tinha para falar.

     Andreza era a “adulta” entre nós (talvez esse “nós” se restringisse à mim e ao Neto, vulgo Gato Brocado, mas é cedo para já entrarmos nos apelidos). Cinco anos mais velha, tinha o privilégio de estar sempre um ou cinco passos à frente de nossas experiências, daquelas que eu próprio só começava a ter naquele período. Do meu ponto de vista era alta e esbelta. Olhos castanhos que ficavam esverdeados dependendo da luminosidade. Parecida com uma elfa.

     Dos sábios conselhos da “adulta” Andressa, o que ainda ecoa em minhas lembranças foi o de não comer três pães inteiros, junto com um pacote de biscoito recheado e uma garrafa de coca cola de 600ml tudo de uma só vez no lanche da tarde, para não ficar com estrias na barriga, como supostamente começava a aparecer em seu irmão Neto, com quem dividi boa parte das aventuras infantis daquele período, mas (seguindo o conselho de Andressa) quase nunca o segui em suas aventuras gustativas. 

     Andressa era assim, sabia o que falava, ao menos para nós: pirralhos. Também sabia escolher time de futebol para torcer, ao contrário de sua irmã Adriana (Lucas, vizinho da frente da casa de Andressa, concordava comigo nesse ponto). No entanto, o melhor de tudo era que Andressa soube escolher o namorado correto para aquela data. Tratava-se de um xará que tinha o mesmo mau gosto para times quanto Adriana, mas com quem me divertia um bocado ouvindo suas piadas, enquanto (agora sei) atrapalhava o “namoro de portão” de Andressa. Caía a noite, e se estivessem ambos conversando no portão da casa era só me aproximar e perguntar para o moço “que time é o teu?” para começar a ladainha. “Bateu na trave e entrou no teu” indo longe, até onde a criatividade pudesse nos levar.    

     Décadas mais tarde, foi justo essa adulta Andreza, pois assim como Hélios, outras Andrezas deixaram suas histórias na rua 15, que me reconduziu ao grupo de Whatsapp onde essas e outras histórias se encontram. Thanks!

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02

Uma volta pela rua 15

     A rua 15 fora, nos primórdios, a última rua do Conjunto Beija Flor 2. Para depois da casa do Lincoln e do Fabinho, apenas Matintas Pereiras, Sacis, pessoas caindo em fossas, cuja tampa havia quebrado nas primeiras habitações da ocupação que se iniciava por ali, além de uma vegetação a ser explorada onde, nos finais de semana, Dona Lucimar e Seu Deuzivaldo (vulgo meus pais) iam buscar paú (adubo natural) para cultivar suas, sempre presentes, plantas em nosso jardim e quintal.

     A entrada da rua era aquela: vindos da rua 14 (famosa rua 14!) uma via sem número (14,5 talvez) conduzia à rua 15. Curva para a direita, feita por um atalho entre flores brancas de quatro pétalas que sempre surgiam por ali, ladeando a casa de Débora, Jordana, Júnior e o pequeno Aldrey. Quem não quisesse pegar o atalho, seguia na “14,5” até o início da rua 15, onde ficava o poste com o transformador que sempre explodia, na entrada da “casa secreta” de Talau, Teisi, Tagride, Terrene e outros T’s.

     Á esquerda da rua 15, uma primeira casa de murros altos, a segunda casa do bebê Iraúna; então a casa 211, minha morada, de onde, em algum momento, saí para dar uma volta em minha bicicleta, na rua. A próxima casa, subindo a rua, depois da 211 era a casa da Laica (muitos ciúmes decorreram da Laica). A frente da minha casa, do outro lado da rua, a moradia de Michael (“Maycon”), até que se mudou para o conjunto Duque de Caxias e além. A casa depois da de Michael teve vários moradores, alternando tempo de desocupação.

      Antes de iniciar meu passeio de bicicleta, dava uma olhada ao redor e comtemplava tudo isso para então subir a rua dirigindo minha bike ao meu modo exótico de conduzi-la. Ocorre que eu não sabia andar de bicicleta. Os Netos, os Fábios e as Adrianas da rua sim, sabiam. Então a forma de me parecer um pouco com eles era “andar” de bicicleta, nem que fosse literalmente. Então seguia empurrando a “Monark” do início até o final da rua. E de lá, de volta para casa.

     Vergonha para o ciclismo brasileiro e para meu irmão Renato. Mas olhando pelo lado positivo, sobrou mais tempo, em meus passos pequenos, de apreciar a morada dos tantos amigos que tive naquela rua. Fossem as casas de Lucas e Luciano, lá pelo meio da rua. Fosse a casa da mulher que furava nossas bolas “dente de leite” que caiam em seu quintal.

     Outras personagens que povoaram a rua 15, ficam para outro dia.

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03

A janela "Maicon"

     Em 1990 nos mudamos para a Nº 211 do Conjunto Beija-Flor 2. Com a poupança congelada em 21 de março pela Ministra Célia (futura Senhora Chico Anísio) e a Super Inflação do início dos anos 90 derretendo as parcas economias dos trabalhadores, a solução de Dona Lucimar e Seu Deuzivaldo foi financiar uma casa e mobilhá-la antes que não desse para comprar um pico... (calma, Lincoln) ...lé com o que tínhamos. Investimento que durou até março de 1998, quando nos mudamos para Boa Vista-RR. Outros tempos, outras aventuras.  

     A vontade é de falar logo dos momentos vividos com Neto, Magno e Adriana Cavalcante. Mas os fatos decorrentes das grandes amizades e dos amores platônicos, da época, vamos guardando como os trunfos dos jogos de baralho na casa de Andreize, a ser usado como estofo nas próximas narrativas.

     Arrisco-me a iniciar pelo meu primeiro amigão da rua 15. Amizade incomum, visto que era bem mais velho que eu. Mas crianças não ligam para essas coisas. Crianças estão mais preocupadas em superar os desafios de Alex Kid ou de ter um controle turbo de vídeo-game, para ficar mais fácil ficar pausando e reiniciando esse ou aquele jogo afim de ganhar vidas infinitas. Se preocupam também em cavar tuneis na areia do quintal de suas casas onde os Comandos em Ação iriam travar suas batalhas inventadas.

     Para chegar na casa do “Maicon” (e foi muito difícil para mim, recém alfabetizado, aceitar que seu nome se grafava Michael) era só atravessar a rua entrar no quintal sem portões e meter a cara na janela gradeada, sem aviso prévio (para desespero de sua irmã... Simone?) perguntando pelo amigo.

     Ter um amigo com bem mais idade, o que se tornou comum em minha trajetória de vida, era um desafio, entanto. As ideias de Maycon eram incríveis e inventivas, sempre à frente de meu tempo. Um saco plástico se transformava em paraquedas para seus bonecos, cabos de vassoura velhas e madeiras de construção se transformavam em espadas melhores que a “Espada Olimpica” (do Ninja Jiraia), aos montes escondidas atrás do meio muro de entrada da sua casa, visto que Dona Nancy achava aquele tipo de brincadeira “um pouco” perigosa. Só no Xadrez que ele não era muito bom. Mais isso já é outra história.

     Então, um belo dia, encontrei a casa de “Maicon” fechada. Havia se mudado. Se queria mais um dia de brincadeira, aprendi o mais importante: não deixe de aproveitar cada janela dessa rua, pois um dia elas também se fecharão!

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04

Estudos pré Renato

     Teimo em seguir ainda por um tempo na era pré Renato, da rua 15. Este só viria se juntar a nós em meados da Copa do Mundo de 1994, quando o Roberto Baggio cobrou aquele belíssimo pênalti como se fosse um kicker de futebol americano e não de soccer, como diriam os anfitriões da peleja.

     Renato França Horta Barbosa, com sua capacidade singular de juntar gregos e troianos (por que as desavenças sempre existiram na rua 15, mesmo nos tempos de nossa inocência infantil) em torno de um projeto comum, quase sempre tendo por objetivo se divertir como se não houvesse amanhã. Este um deixou sua marca em sua breve passagem pela rua 15, ao ponto de aqui, eu não ser o Hélio e ponto, uma estrela que brilha por si só, mas ser “Hélio, o irmão do Renato”, justamente eclipsado pelo irmão, cuja atração gravitacional sobre outros astros sempre se fez bem mais intensa que a minha.

     Nesse período pré Renato, também não havia ainda o intrépido Talau, o cortês Teissi, o experiente Temer, a bela Tarrene e a formosa Tagride e qualquer outro “T” que possa existir mais que os anos (24 me informou um certo Cientista Contábil entre nós) fizeram desaparecer de meu radar. Estes ainda não tinham nome próprio e eram tão somente conhecidos como “gringos”, expressando todo preconceito e xenofobia que uma criança acaba internalizando ao vivenciar culturas veladamente intolerantes, como algumas culturas brasileiras eventualmente o são (registro aqui minha sinceras e tardias desculpas por isso).

     Todavia, muito antes dos “treinos” de jiu-jitsu na grama da “casa secreta” de Talau na esquina da rua 15; nutridos a ingá e coceira nas costas, pude participar brevemente do seio daquela família e eles de minha educação que, dentre outras coisas, hoje culminam nesse compilado de memórias escritas. 

     Antes de me tornar aluno do Colégio Pica-Pau, do Conjunto Duque de Caxias, fui matriculado na escola da Dona Fátima e aprendi algumas das minhas primeiras letras em uma mesa de madeira ampla com bancos de madeira cumpridos na varanda de uma das casas do “Baba”.

     E essa mesa, esses bancos e essa varanda seriam, anos mais tarde, testemunhas oculares de alguns dos primeiros porres que a galera da rua 15 veio a tomar nas tão esperadas festas de Aniversário, ou mesmo festas de Virada de Ano, ao som coreografado de “Rala, ralando o Tchan... olha o quibe!” e outras tantas danças pélvicas que faziam sucesso naquela época.

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05

Um banco que hoje sabe falar

     Nos aproximamos sempre mais do tempo em que eu e o Neto nos revezávamos entre Mário e Luigi, buscando “zerar” o Super Mário Word, fosse pelas vias normais, fosse pelas Caminho da Estrela; do tempo em que Adriana e Andreza Cavalcante ostentavam com orgulho a Bela face de John Francis, da banda Bon Jovi, na parede de seu quarto e do tempo em que rolava dados de 20 faces nos domínios de Magno imaginando e interpretando aventuras de fantasia medieval. Mas nunca na laje (“na laje não Pereira!”), para que ninguém despencasse lá de cima, dado o histórico de acontecimentos da época.

     Mas ainda resta um ou dois arremates a serem feitos antes de irmos para a Era de Ouro da rua 15, como consideram alguns dos mais saudosistas. Da minha parte lembro que no início não tínhamos muros altos, nem grades na entrada dos terrenos. E morar em um lugar assim, parece hoje digno de fantasia dos jogos de RPG ou dos livros de regra dos síndicos dos condomínios fechados.

     Já falei de meu amigo “Maicon”, seis anos mais velho que eu, alertando o leitor que as diferenças de “primaveras” eram comum nas relações da rua 15, como o é em todo lugar. Agora devo pontuar que nem sempre era eu o “café com leite” ao falar do meu amigo Júnior.

Que Jr. esse homi tá falando?! Pois então, é esse sentimento mesmo que quero transmitir. Quanto mais criança somos mais passamos desapercebido do radar dos demais. É quase como se não existíssemos. Mas o Júnior, estava lá na rua 15. Bem mais novo que eu. Depois de atravessar a rua 15, quando não tinha “Maicon”, bem ao lado de sua casa, tinha o Júnior, filho da vizinha Solange. E lá ia eu brincar no quintal das irmãs Débora e Jordana, bem quistas por uns e personas non grata por tantas outras. Mas, afinal, quem não tem “Maicon”, brinca com Júnior, como diz o velho ditado... algo do tipo.

     Noto que tinha para com os menores (de idade, não de tamanho. Não se preocupe com isso Fabinho) o sentimento de desimportância e despreocupação que os maiores deviam ter para comigo. As sábias palavras do ex-2º Sargento Góes, da aeronáutica, só bem mais tarde fizeram sentido: “é pequeno hoje, mas vai crescer. Não demora, cresce.”.

     Crescemos (a maioria, pelo menos). Entre adolescente, jovens e adultos que despreocupados, falavam/faziam suas bravatas. “Você não deve lembrar...” tem repetido o contador. Lembro, lembro sim. Só que nem tudo merece registro.

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06

Parabéns, Marlyo

     Devido a data comemorativa do dia de hoje, me aventuro a um salto temporal que nos leva já para o período pós Renato, na rua 15. Não há realmente uma necessidade de seguirmos uma linha cronológica definida e se me empenho em fazer assim é apenas por cacoete de historiador tentando facilitar a compreensão da audiência com linhas temporais. Mas não hoje, porque hoje é aniversário do amigo Marlyo. Parabéns!

Lá para os fins dos meus tempos no Conjunto Beija Flor 2, até onde limito essa odisseia, joguei com Marlyo, Magno, Neto e alguns outros aventureiros (as) partidas de RPG. Havia recém aprendido o Jogo de Interpretação de Personagens (Roler Play Game) e tentava, desastrosamente, iniciar minhas primeiras conduções de campanha com os amigos da rua 15.

     Marlyo não era propriamente da rua 15. Lá no fim pega a esquerda, depois a direita; sobe a ladeira e lá no topo da “colina” o primeiro portão à esquerda. Ocorre que com o passar do tempo, a rua 15, que de fato existe fisicamente, se tornou mais um conceito. As pessoas da rua 15, aos poucos foram se tornando as pessoas que tiveram histórias na, ou ligados à, rua 15.

     Devo falar também que Marlyo não era muito afeiçoado aos jogos de dados e interpretação; logo se cansava e nos convidava para o que realmente gostava de fazer: correr, pular, se esconder ou qualquer outra brincadeira mais física. Não tardava, lá estavam todos (os ainda pouco jogadores de RPG) brincando de “polícia e ladrão”, capitaneados por Marlyo, pela vizinhança.

     No período junino costumávamos usar estalinhos como munição para a brincadeira. O que deixava marcas de queimadura no tecido, fazendo com que nossos pais brigassem conosco por ter estragado as roupas. Fora do período junino, usávamos pedra mesmo, o que costumava machucar, poupando o trabalho de nossos pais de brigarem conosco, visto que geralmente a brincadeira terminava quando, machucados, brigávamos entre nós. Briga de criança e principalmente de irmãos (quantas vezes Magno vs Marlyo, Fabinho vs Lincoln). No dia seguinte, lá estávamos de polícia ou de ladrão novamente nas casas em construção da vizinhança. E Marlyo a cada dia aperfeiçoando seu “armamento”! Queria ter preservado um daqueles “trabucos” de Marlyo, feito de madeira, prego e borracha de pneu que disparavam tampinhas de garrafa, para presenteá-lo nesse dia festivo, com suvenir de uma infância feliz e doidamente criativamente.

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07

Bicicletas

     De tempos em tempos surgia uma brincadeira nova na rua 15, para não deixar que aquela infância, adolescência e juventude para alguns, não se tornasse muito monótona. Brincadeiras que iam desde as pueris empinadas de pipa (se quiser chamar de papagaio ou rabiola pode, mas para nós cada um tinha suas especificidades), aos perversos “taco-ball” com os sapos que apareciam no período das chuvas no campo de futebol ao lado da casa dos irmãos Lincoln e Fabinho.       Agora patins e bicicleta, durante aquele período, foram duas das diversões que nunca saíram de moda. Os vídeo-games e os “verdades ou desafios?” também estiveram sempre presentes. Mas como esses últimos rendem capítulos e mais capítulos a parte, deixemo-los para mais adiante.

      E como todos, a todo momento andavam de bicicleta, as vezes sozinhos, mas quase sempre em bando, tive que criar coragem e/ou vergonha na cara, superar o medo das primeiras quedas, e aprender a me equilibrar naquelas duas rodas para fazer aquele “cavalo de pau” que o Lucas fazia como ninguém, deixando a marca do pneu gravada no asfalto do meio da rua 15.

     Não se preocupe, Seu Deuzivaldo, não imortalizarei nessas páginas sua tentativa frustrada de me ensinar como se andava com uma roda só, até hoje lembrada às chacotas por Dona Lucimar nos jantares festivos de nossa família. Não farei isso! Como também não registrarei como aprendi, da pior forma possível, a não usar o freio da frente para frenar forte a “magrela” (bicicleta) ao me deparar com aquele quebra-mola da rua da caixa d’água, paralela à rua 14.

     Foi motivado pelos amigos da rua 15 que aprendi a andar de bicicleta, e principalmente que aperfeiçoei meu talento em duas rodas, afinal tínhamos que subir e descer as calçadas desafiados por uma espécie de “segui o líder” quando andávamos em bando seguindo o Luciano. Tínhamos que pedalar rápido, frear forte, e as vezes ficar parado sem por o pé no chão quando a turma resolvia adaptar uma espécie de “manja pega” (pira pega para os paraenses, não é Fábio Gordo? não é Marley?) de bike. Fora as ladeiras do conjunto de trás da rua 15 que Neto e eu nos desafiávamos a descer sem usar as mãos ou a destreza que se ganha ao teimar em não cair nas valas da rua 14 quando espremido pelas fechadas que Magno teimava em fazer, sempre sorridente.

     Como Vital, do Paralamas do Sucesso, o povo da rua 15, em cima das bikes, se sentiam Total. E eu com eles, naqueles idos tempos de metal.

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08

Velas, fogueiras e catolés

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     Entre o cotidiano dos taco-ball’s com latas de óleo soya, dos fitalties do sub-zero e das idas a pé até o ponto inicial do ônibus do Conjunto Beija Flor 2, para se poder fazer a viagem sentado e não em pé, espremido contra a porta de entrada, haviam os eventos festivos que muito ajudavam na interação da vizinhança e dos amigos.

     Dona Lucimar, a senhora minha mãe, que no dia de hoje faz aniversário, promovera, junto com a vizinhança, por alguns anos arraiais juninos. Então, em alguns dias do mês de junho, era aquilo: nada de ficar de pernas para o ar sem ter o que fazer depois dos estudos. Tudo começava com seu Deuzivaldo, o senhor meu pai, decidindo quais as revistas Veja, de sua coleção de assinante, seriam sacrificadas naquele ano. Então vinham as tesouras, barbante e o grude (uma cola caseira feita de trigo) e lá estavam as bandeirolas, balões e serpentinas demarcando o espaço do terreiro daquele ano.

     Muito mungunzá (mingau de milho branco) para comer. Mas também tinha bolos, churrasco, pipoca, refrigerante, cerveja, vatapá e o que mais a criatividades e disposição culinárias dos participantes conseguissem viabilizar. Deve ter sido aqui, aliais, que surgiu conceito de Uber Eat, porque muitas dessas comidas eram levadas em pratinhos de plástico até os portões dos amigos que não puderam ou não quiseram vir.

     Músicas tradicionais de quadrilha, forrós em geral e, vez ou outra, uma ou outra toada de Garantido ou Caprichoso animavam o festejo ao som dos estalinhos e as bombinhas que os guris estouravam aqui e ali. Os “catolé” de Talal só eram estourados bem no fim da festa quando ninguém mais tinha forças para ficar olhando as “coisas erradas” que “as crianças” estavam fazendo. Ficava também para o fim da festa a braveza dos corajosos de estourarem as bombinhas (palito) na mão (sem jogarem para longe, como deveria ser). E também ficava para o fim da festa, colocar uma bombinha dentro do cigarro, furtado do arsenal de Calton e Free, de dona Lucimar e encontrar um porre qualquer que quisesse dar um trago.

     Barraca do beijo (sempre idealizada, mas nunca materializada), prisão, telegrama secreto e quadrilhas faziam parte da programação. E ali a luz das fogueira de São João, naquele terreiro da rua 15 descobríamos quem de nós era o melhor dançarino. E o sorvete de premiação vai para... Fabinho! Parabéns!

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09

Renato

     Os primeiros anos no Conjunto Beija Flor 2, minha interação com a rua 15 e com as pessoas que nela moravam foi quase zero. Fosse porque muitas ainda não haviam para ali se mudado, fosse porque muitas ainda estavam “saindo da casca do ovo” como eu, fosse porque desde aquela época sempre houve esse “q” de anti-social em mim (“Q”, aliás, que vai se tornando cada vez mais maiúsculo conforme os anos vão avançando). Eu era recluso e, quando em grupo, chorão, como bem caracterizou Fabinho.

     Por certo havia o Jerferson, do Colégio Pica-Pau que morava no conjunto atrás da rua 15, haviam os irmãos Eleilson, Eleilsa e Patrícia que moravam no conjunto Beija Flor 1 e, como já relatado, a incomum amizade com o criativo “Maicon” da casa da frente e com o “não conhecido” Júnior da casa de esquina. Era com esses e poucos outros com quem me divertia as tardes e aos fins de semana, hora na casa de uns, hora na de outro, hora em minha própria.

     Até que em 1994 Renato, pé de pato, primo de Luciana, cara de cana, veio morar conosco na casa 211. Eis então que Hélio, o boquinha de piranha (não vá rir disso Tio Jorge, cabeça de ovo) pôde apreciar a companhia não somente de um irmão, mas de toda uma diversidade de pessoas que o Horta Barbosa conseguia mobilizar em torno de si.

     Não é à toa que, aqui, eu seja Hélio, o irmão de Renato. No fundo as amizades da party da rua 15 e beyond (além) eram verdadeiramente dele e eu era apenas o peso que ele tinha que levar consigo, agarrado na “barra de sua saia”, por ser o irmão mais velho e não poder deixar o guri chorando para trás (viu! Ponto para o Fabinho, esse sempre foi muito vivo para os detalhes).

     Renato sempre teve essa capacidade incrível de interagir com as pessoas e logo constituir seu clube ou seus vários clubes, porque eram muitas as amizades que formava. Bastou alguns meses para que não se passasse um dia sem sempre aparecesse alguém perguntando pelo “Perna Longa”. É sério, os assovios chamando pelo Renato pareciam brotar de todos os lugares da casa: no muro da frente, na janela, na porta de entrada e até no muro de trás, lá no fundão do quintal, quanto era Talal ou Teici a procurar a peça.

     Foi assim que, naquele tempo, herdei de Renato alguns amigos, bem como sua torcida pelo flamengo; a vontade de usar cabelos compridos e, principalmente, vontade de ser “popular”, como o “Rei” o era, naquele período.

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10

Do dia que me atropelaram

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     Já sabemos a importância das bicicletas na vida da infância da rua 15. Então sabemos, que tudo era pretexto para subir no “camelo” e sair pedalando rua a fora. Comprar bolo no Rui da rua 14... comprar bolo de bicicleta. Comprar patinho cortado para bife no açougue perto do clube (dos policiais?)... ir no açougue de bicicleta. Ir convidar o Neto para brincar... ir convidar de bicicleta. Jogar fliperama no bar lá final da rua, futura casa do Fábio Gordo... ir de bicicleta.

     Então um belo dia fui com Neto, o outro Neto, jogar Fliperama no bendito bar... fui de bicicleta. Saí de casa de bike, mas não pude voltar com a bike para casa, pois no exato momento em que minha bicicleta descia a ladeira de acesso para rua de uma das casas ali por perto (já foi relatado nosso hábito de subir e descer calçadas e gramas com bike), um carro atropelou minha bicicleta e ciclista e tudo que estava na frente junto.

     No estado em que eu estava não tinha como ver quem alertou dona Lucimar. Atropelaram o Hélio! Ou quem sabe: o menino Hélio foi atropelado! A senhora minha mãe pode me contar mais tarde o quanto ficara nervosa de ver o carro, algum sangue, a bicicleta retorcida de lado e a quantidade de pessoas fazendo aquele círculo ao redor da cena de atropelamento.

     O estado em que estava era de torpor provocadas pela luminosidade daquelas lanternas de game, pela adrenalina da prática daquele esporte perigoso de apertar botões e dores, como se fossem física, de tanto Lord Raiden, bater em meu Scorpion, no fliperama daquele bar.

     Explico!

     O Neto, ou outro Neto, que estava sem Bike no momento, pediu emprestado a minha para ir fazer o que quer que fosse (...fazer de bike) nela enquanto eu estava tentando chegar ao Chang-Sung, como Lincoln costumava fazer sem grandes esforços.

     Só vim saber que eu supostamente havia sido atropelado bem depois de ser conduzido, da forma carinhosa como as mães da década de 90 conduziam seus filhos para casa quando achavam que eles haviam aprontado, ao lar.

     É claro que Neto, o outro Neto, saiu desse fim de tarde bem mais machucado que eu. E aquilo abalou nossa amizade de maneira decisiva. Fiquei sem bicicleta, a partir de então. E como as famílias não mais se falaram “direito”, após a recuperação do guri, foi o Neto, o oficial, o Neto que virou meu amigão.

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11

"Achiiide"

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     Os primeiros anos no Conjunto Beija Flor 2, minha interação com a rua 15 e com as pessoas que nela moravam foi quase zero. Fosse porque muitas ainda não haviam para ali se mudado, fosse porque muitas ainda estavam “saindo da casca do ovo” como eu, fosse porque desde aquela época sempre houve esse “q” de anti-social em mim (“Q”, aliás, que vai se tornando cada vez mais maiúsculo conforme os anos vão avançando). Eu era recluso e, quando em grupo, chorão, como bem caracterizou Fabinho.

     Por certo havia o Jerferson, do Colégio Pica-Pau que morava no conjunto atrás da rua 15, haviam os irmãos Eleilson, Eleilsa e Patrícia que moravam no conjunto Beija Flor 1 e, como já relatado, a incomum amizade com o criativo “Maicon” da casa da frente e com o “não conhecido” Júnior da casa de esquina. Era com esses e poucos outros com quem me divertia as tardes e aos fins de semana, hora na casa de uns, hora na de outro, hora em minha própria.

     Até que em 1994 Renato, pé de pato, primo de Luciana, cara de cana, veio morar conosco na casa 211. Eis então que Hélio, o boquinha de piranha (não vá rir disso Tio Jorge, cabeça de ovo) pôde apreciar a companhia não somente de um irmão, mas de toda uma diversidade de pessoas que o Horta Barbosa conseguia mobilizar em torno de si.

     Não é à toa que, aqui, eu seja Hélio, o irmão de Renato. No fundo as amizades da party da rua 15 e beyond (além) eram verdadeiramente dele e eu era apenas o peso que ele tinha que levar consigo, agarrado na “barra de sua saia”, por ser o irmão mais velho e não poder deixar o guri chorando para trás (viu! Ponto para o Fabinho, esse sempre foi muito vivo para os detalhes).

     Renato sempre teve essa capacidade incrível de interagir com as pessoas e logo constituir seu clube ou seus vários clubes, porque eram muitas as amizades que formava. Bastou alguns meses para que não se passasse um dia sem sempre aparecesse alguém perguntando pelo “Perna Longa”. É sério, os assovios chamando pelo Renato pareciam brotar de todos os lugares da casa: no muro da frente, na janela, na porta de entrada e até no muro de trás, lá no fundão do quintal, quanto era Talal ou Teici a procurar a peça.

     Foi assim que, naquele tempo, herdei de Renato alguns amigos, bem como sua torcida pelo flamengo; a vontade de usar cabelos compridos e, principalmente, vontade de ser “popular”, como o “Rei” o era, naquele período.

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Neto da avó

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     “Neto? Neto de que?”

     “Da minha avó.”

     E assim, eu tive um grande amigo na rua 15, que eu nunca soube seu primeiro nome. Até hoje eu não sei. Era só chamar de Neto que ele vinha. Ou Gato Brocado, quanto queria testar o nível de amizade. Ele sorria e devolvia me chamando de Boca de Piranha. Ok! Os amigos podem. Qualquer outro que usasse aqueles chacoteadores Nick Names (vulgo apelidos) teria de nós nossa ira eterna. Entre chagados, entretanto, isso não acontece.

     Com o tempo, Gato Brocado, porque meio que para conservar seu tamanhão, vivia comendo (de preferência bolacha recheada acompanhado de refrigerante no saco), pela lei do menor esforço foi se tornando Miau. Enquanto, pela mesma lei de aporrinhar os outro sem gastar muita energia, presente nos demais amigos da rua, fui reduzido a Boca.

     Era com Neto que eu atravessava o terreno do Senhor Mohamed Elmenoufi, como atalho para ir comprar, mini-pizza, din-dins, salgadinho de arroz doce (isso é possível?) e tantas outras guloseimas no bairro atrás da rua 15 (já era hora de saber o nome do Conjunto do Seu Gustavo).

     Era com Neto com quem “inventava moda” de, por exemplo, ficar durante uma semana usando a melhores roupas, como se fossemos para uma festa, todas as noites, só para ficar “charlando” (será isso uma expressão meramente paraense? Vai, “pavoneando”), passeando na rua 15 e arredores.

     E era Neto que, para não me deixar “na mão”, ou melhor, para não me deixar “a pé”, criava todo tipo de desculpas para que seu Zé (“Manelis”, como saudava Lucas ao entrar na casa vizinha), o senhor seu pai, emprestasse a bicicleta de sua irmã Adriana para que juntos (ele na bicicleta de Andreza, predominantemente amarela, mas com outras cores adornando) pudéssemos continuar a ir fazer as coisa que fazíamos... indo de bicicleta.

     Então, lá para o fim de minha estadia na rua 15, quando não estava na Colégio Objetivo estudando, nem no Fisk, nem na Natação, nem na Informática Básica, nem na roda de capoeira, nem nas mesas de RPG, nem estudando capitanias hereditárias com seu Deuzivaldo, no jardim de casa, para entrar no Colégio Militar, não tardava a estava eu com Neto, ao menos quando ele não estava entretido em suas próprias programações.

     “Bora Miau?”.

     “Bora Boca!”.

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Inédito: Neto, o Enedito

     Ok. Fiquemos um pouco mais no Neto, da avó. Aquele que não foi atropelado e que comia mais do que qualquer outro na mesa em que ele sentasse. Aquele que me convidava para ir com ele... ir de bicicleta, emprestada de suas irmãs, lá na empresa (ou fábrica, ou fosse o que fosse) Cassique levar marmitas para o Seu Magno. Não o nosso Magno (Pereira), o pai desse um.

     Dona Sabá preparava as marmitas, habilmente fechadas por Marly, usando uma máquina simples de pôr-girar-e-lacrar, mas que sempre me chamou a atenção. Pereira (o Magno nosso) ficava responsável por entregar no trabalho de seu pai. E como era chato fazer o percurso sozinho, Neto e eu nos juntávamos a empreitada. E lá iam os “três mosquiteiros”; marmitas em mãos. Na volta, uma estratégica parada nas dunas de areias que eram depositadas ali perto, até retornamos ao lar, bem mais brancos do que deveríamos ser.

     Magno, Marly e os demais M’s, entretanto, entrarão na história logo em breve. Agora não é hora de falar dos nomes que começam com a letra M. Nem dos nomes dos amigos (irmãos entre si) que começam com a letra T. Nesse texto registraremos o nome, somente agora descoberto, do Neto (oficial, o primeiro). “O primeiro nome do Neto é Enedito (nome do nosso avô)”, me soprou uma visão do futuro, de Andreza Cavalcante, irmã do Miau.

     Eis então que o "gato saiu do saco" (o segredo foi revelado), como diriam os bucaneiros de Piratas do Caribe. “É Enedito. Mas na época da escola, os amigos dele o chamavam de Inédito” soprou a outra irmã. “Eu e a mana morria de rir dos amigos dele.” O que explica o Enedito não fazer questão de me dizer de quem ele era Neto.

     Ah!!! esses nomes criativos... bem que eu poderia ter aprendido suas complicações ali mesmo na rua 15. Mas nããão. Mais tarde eu e Ângela, minha esposa, demos o nome a nossa filha mais nova Palas, que significa Deusa da Sabedoria. Então seus amigos lhe chamam “Palaci”; tipo Palácio. E alguns vão logo para Paula. Havendo ainda a Hilari, que enfia um Parlas.

     Acontece. Culpa minha e dos pais criativos ao dar nomes para os filhos. Por bem Palas tem um Patrícia como segundo nome que lhe salvará de qualquer constrangimento, caso exista, como parece que por bem meu grande amigo de rua 15 Enedito tinha um Neto como refúgio.

     Mesmo assim o vento futuro sopra: “Isso. Sempre é culpa dos pais”.

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Parabéns, Irmão

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     Hoje é aniversário do Renato. Morou conosco na casa 211 nos anos de 1994 e 1995. Me deu de presente, mesmo que já mais pudesse imaginar isso, uma seleção de amigos com os quais pude compartilhar momentos incríveis de vida e uma diversidade de outros tantos que, infelizmente, os percalços da vida tiveram o capricho de ir afastando. Como retribuir isso a quem foi, e é, tão importante na constituição de minha própria personalidade, jamais saberei responder.

     Para seu prejuízo e meu ganho, Renato na época de rua 15 tinha que me levar para onde quer que fosse. Talvez desgostasse desse papel de protetor, mas o fazia com maestria, tanto que não foram poucas as vezes que fui para além dos limites de onde se podia ir, enfrentando situações e pessoas, pois sabia que o irmão Renato me resgataria ou me salvaria caso não “desse conta” de aguentar o resultado do desaforo. Aliás, acho que não fui o único irmão menor que se valeu desse tipo de estratégia ao se relacionar com os demais da turma. Não tenho como falar pelo Fabinho, nem pelo Pereira, mas pode ser que não fosse eu o único “chorão valente” na presença dos irmãos mais velhos.

     Aqueles foram dois anos de intensa companhia do meu irmão Renato. Não só nos aventuramos nos Street Fighter 2 e Mortal Kombat nas locadoras de vídeo games dos confins do Beija Flor 2, estudamos nas mesmas escolas (CEID e depois Colégio Objetivo), cursamos os mesmos cursos de inglês, natação, informática e capoeira, e ganhávamos os mesmos presentes. Listemos os que vem à cabeça: bicicletas uma para cada; carrinho de madeira, um para cada; metralhadora que fazia 13 sons diferentes, uma para cada; patins, um para cada; boneco dos cavaleiros do zodíaco da Bandai, um para cada; foto na parece acompanhado de um álbum, um para cada, walkie-talkie e walkman, um para cada e assim os irmão iam ficando parecidos em suas posses. Mas como bom “macaco de imitação” que eu era fui São Paulino quando ele gostava do goleiro Zeti, mudando de time quando ele mudou. Também quis calça morto e tênis de skatista só para ficar descolado como o irmão.

     Depois que ele se foi, não demorou muito, pude passar mais 2 anos com ele, agora morando em seus domínios, Boa Vista-RR, ainda buscando ser o mais próximo possível do que ele era. Não há presente que eu possa lhe dá no dia de hoje que demostre o quão parecido fiquei com ele, e não só na aparência.

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